Sobre dinossauros, casas e o tempo
Semana passada, acordei e abri a janela do meu quarto. Vi uma casa. Casa? Mas, pelo que me lembre, era um terreno baldio. Puro mato. (...)
Construíram uma casa e nem percebi. E já tem até uma família morando nela. Onde estava eu com a cabeça que nem notei esta casa sendo construída? Não me ausentei muito durante os últimos meses, nem durante as últimas semanas.
Os operários trabalhadores colocaram tijolinho por tijolinho e eu não prestei atenção em nenhum sequer...
Do trabalho pra casa, da casa pra padaria, da padaria pra casa... O tempo passou, uma casa foi construída bem diante do meu nariz e eu nem vi...
Os filhos do novo morador fizeram amizade com as crianças da vizinhança. O casal parece ser bem feliz.
Quando abro o portão, o novo vizinho acena com um sorriso pra mim. Quem sabe, novos amigos... E eu não vi nenhum tijolinho sendo assentado... O meu senso de assimilação cômodo só reclama da estranheza de olhar pela janela e não enxergar o costumeiro mato.
Ontem, indo ao trabalho, refleti: "será que não fazemos isto também em nossas vidas? Quantas casas construímos dentro de nós e nem percebemos? Quanta gente nova vem morar nestas nossas casas interiores e nem nos damos conta?".
Tudo porque estamos ocupados com uma rotina diária. Coisas novas acontecem, coisas velhas deixam de acontecer. O que parecia eterno já não existe mais.
Lagartos gigantescos que dominavam o nosso planeta, agora, são apenas ossadas expostas em museus e petróleo pra queimarmos no tanque de combustível de nossos carros em frações de segundos. Minhas crônicas são casas que eu construí dentro de mim. Os moradores destas casas são os meus leitores e amigos. Escrevendo, fiz amizades.
E se, de repente, abandono tudo? Quantos moradores do meu coração serão desalojados?
Uma alma que, há poucos meses, estava repleta de mato, hoje, é um conjunto habitacional. E nada disto teria sido concretizado se não fosse o nosso bom e velho amigo tempo... quanta coisa precisamos aprender sobre o tempo...
Marcelo Garbine
A versão em áudio deste texto – transmitida pela Rádio WRA de Santo André – SP – e pela Rádio Além Fronteiras de Portugal – pode ser ouvida na subseção Crônicas para Rádio da Seção Rádios deste site.
Veículos de mídia impressa ou eletrônica interessados em publicar este texto podem entrar em contato.
Construíram uma casa e nem percebi. E já tem até uma família morando nela. Onde estava eu com a cabeça que nem notei esta casa sendo construída? Não me ausentei muito durante os últimos meses, nem durante as últimas semanas.
Os operários trabalhadores colocaram tijolinho por tijolinho e eu não prestei atenção em nenhum sequer...
Do trabalho pra casa, da casa pra padaria, da padaria pra casa... O tempo passou, uma casa foi construída bem diante do meu nariz e eu nem vi...
Os filhos do novo morador fizeram amizade com as crianças da vizinhança. O casal parece ser bem feliz.
Quando abro o portão, o novo vizinho acena com um sorriso pra mim. Quem sabe, novos amigos... E eu não vi nenhum tijolinho sendo assentado... O meu senso de assimilação cômodo só reclama da estranheza de olhar pela janela e não enxergar o costumeiro mato.
Ontem, indo ao trabalho, refleti: "será que não fazemos isto também em nossas vidas? Quantas casas construímos dentro de nós e nem percebemos? Quanta gente nova vem morar nestas nossas casas interiores e nem nos damos conta?".
Tudo porque estamos ocupados com uma rotina diária. Coisas novas acontecem, coisas velhas deixam de acontecer. O que parecia eterno já não existe mais.
Lagartos gigantescos que dominavam o nosso planeta, agora, são apenas ossadas expostas em museus e petróleo pra queimarmos no tanque de combustível de nossos carros em frações de segundos. Minhas crônicas são casas que eu construí dentro de mim. Os moradores destas casas são os meus leitores e amigos. Escrevendo, fiz amizades.
E se, de repente, abandono tudo? Quantos moradores do meu coração serão desalojados?
Uma alma que, há poucos meses, estava repleta de mato, hoje, é um conjunto habitacional. E nada disto teria sido concretizado se não fosse o nosso bom e velho amigo tempo... quanta coisa precisamos aprender sobre o tempo...
Marcelo Garbine
A versão em áudio deste texto – transmitida pela Rádio WRA de Santo André – SP – e pela Rádio Além Fronteiras de Portugal – pode ser ouvida na subseção Crônicas para Rádio da Seção Rádios deste site.
Veículos de mídia impressa ou eletrônica interessados em publicar este texto podem entrar em contato.
Essa também é legal!
- Comentar pelo site
* Deixe o campo sem preencher para comentar como Anônimo.